quinta-feira, 22 de agosto de 2013

TRIBUTO



Quatro corpos e uma consciência no gramado fofo do Parque Nacional.
Oito olhos e uma consciência na neblina opaca de uma noite.
Oito mãos que tremem e se enregelam,
que se buscam mutuamente
na solidão que tem regido os quatro corpos                                  
desde que a luz lhes brilhou.
Quatro corpos e uma consciência e só um par de olhos alagados
no iceberg do anoitecer.
Ninguém é mudo, ninguém sofre...
Só a consciência busca no passado uma ponta de mágoa
com aquela água salgada e amarga
que faz o olhar brilhar.
Quatro corpos na noite medieval banhando-se de luar
fartando-se de paz.
Nasce um amor... outro morre;
os dentes brilham na reencarnação.
O sol nasce dentro dos corpos
e as oito sombras unem-se numa só.
Um ódio guardado, bons tempos lembrados
e talvez um ciúme nascendo e crescendo,
virando gigante.
Mãos se buscam e se entrelaçam num completo dilúvio de amor,
sonhos nos sonhos, sorrisos manchados de lua.
Tudo vem... Tudo é real.
Até a lágrima que rola isolada e tranqüila
e se afoga no lago do Parque Nacional.
Que água escura, meu Deus !!!                                                                      
                 
A distância isola a consciência; isola as consciências
e  forma-se um mundo novo para se viver aos domingos.
Que dure este mundo maravilhoso de serpentes amarelas
de estátuas e natureza.
Corpos se encontram e dão luz ao amor
forte e risonho.
Olhos se miram e deste vendaval de cores
nasce a fraternidade.
E nestas mãos que se encontram,
nestas bocas que se calam
está o intenso vigor do século XX.
Existe um ponto de paz no Universo
para se viver aos domingos.
No centro da terra,
as margens do lago,                                                                     
ao lado da selva de pedra.
                                        
Existe um Éden para as sombras
que se agarram, se abraçam e sorriem,
cantam, ouvem e se recordam.
Não importa a idade,
o nome não importa,
que importância tem a cor ?
Braços jovens na louca vontade de vencer,
sangue quente,
quente boca.
                                
Voz rouca,                                                                
idéias loucas,
loucos ideais...
Amém.

                                              


Explicação:  Este texto/poesia foi escrito quando eu tinha 19 anos. Reproduz os meus pensamentos naquela época. Foi feito durante um passeio na Quinta da Boa Vista que eu fiz com mais 3 amigos após uma desilusão. Hoje, em 2019, eu percebo o quanto éramos solidários, o quanto havia de esperança nos nossos corações. Ficamos o dia inteiro e uma parte da noite, fugindo da realidade, brincando, namorando, cantando e farreando. Foi muito bom. A consciência era a minha que sofria mas que queria se libertar a todo custo da dor da desilusão. O que os outros pensavam eu não sabia, mas suponho que a única coisa que eles queriam era que eu saísse da "fossa", como falávamos naquele tempo.
Que saudades do Auzenito, Auzenite e ?????  não lembro o nome do outro menino !
             
                                                       
                           



31.05.1971


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