segunda-feira, 12 de agosto de 2013

NOSTÁLGICA


   

          Hoje, olhando as crianças, me veio à lembrança bonecas de papelão.
         Com esta lembrança, me vieram outras, alegres, tristes, feias, bonitas, boas, más...
         Minas Gerais... Manhuaçu... Dona Petrina... Benzeduras e chazinhos.


         Me veio à lembrança a Praça, a Matriz de São Lourenço, a ponte de cimento armado, com seu enorme arco, num tempo e local onde este tipo de ponte era coisa muito importante. Tão importante, que durante a procissão de Nossa Senhora, ao passar por ela, eu menina do interior a classifiquei como milagre. Sem nem ter idéia do que eram as maravilhas do mundo, eu já a considerava uma delas.


          Lembrei também a ponte de madeira onde ao mirar meus passos, no sapatinho branco da Primeira Comunhão, eu também podia ver a água amiga do rio, correndo célere diante dos meus olhos, a brincar comigo.
          Eu sei que já não existem a venda do Seu Arif, a catação de café nem a fundição. Já não existem o cinema e nem o Grupo Escolar. Já não existem Vovó Chiquinha, Padrinho Chico e nem Vovó Manega. Na realidade, das min has lembranças, até mamãe já não existe mais.

          Mamãe era Nenê na lingua Manhuaçuense. Forte como aquela terra, generosa como aquele rio, bela como aquele céu, sucumbiu também ao tempo.
          Mas eu não consigo esquecer nem parar de suspirar diante da minha saudade.
          O cheiro da minha terra, o sabor das minhas raízes tem um contraste estranho com esta noite.
           Brincar era meu ofício e tudo girava ao meu redor, deixando-se aprisionar na minha retina.
          Hoje, já não conto histórias como mamãe contava, já não ensino mais como ela ensinava.
          Hoje, já não existem mais, bonecas de papelão com roupinhas de papel crepon. Era a alegria no Natal, o sorriso nos aniversários.
          Lembro que todas tinham a mesma carinha sem expressão, pele rosada e boquinhas carmim.

          E estas bonecas são uma das lembranças mais felizes da minha infância.
          Posso, eu creio, esquecer rostos, nomes, lugares. Posso esquecer eventos e situações, mas as bonecas de papelão, compradas no bazar da Praça, cheias de um charme especial, que cabiam nos meus braços como se eles fossem a fôrma delas, são a memória mais forte do meu passado.
          Forte como a minha nostalgia.


                                             


2003

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O trem da volta.