Irmão,
Hoje
o dia acordou com cara de passado,,
Uma
chuvinha fina, um vento gelado,,
Um
cheiro forte de poeira no meio do ar.
No
chão molhado, cambaxirras fazem farra,
Pardais
saltitam em louca algazarra,
E
um solitário bem te vi passa a cantar.
Choram as árvores gotinhas transparentes,
Desfazendo-se
em brilho ao bater no chão.
Bailam
as folhas na música do vento,
Enquanto
as rolinhas buscam alimento,
Dançando
ao som desta mesma canção..
Quebrando
a solidão, crianças na calçada,
Não
sentem frio e brincam animadas,
Numa
confusão de vozes e intenso corre – corre.
Rodeiam
exultantes um pequeno charco,
E
dobram em papel, pequeno e frágil barco,
E
o soltam na água que da poça escorre.
Minha alma viaja naquele barquinho,
Tomada
de incerteza, em busca do caminho,
Que
me transporte ao tempo de criança.
Nesta
manhã tão fria, o passado tão distante,
Torna-se
presente a partir do instante,
Que
liberto na enxurrada o barco da lembrança.
Vejo
ao passar as mais belas paisagens,
E que
o medo do futuro não pode apagar.
Vivo
o presente no mar dos desenganos,,
Mas
navegando imaginários oceanos,
Tenho
tempo e liberdade pra lembrar.