quarta-feira, 17 de maio de 2017

Intensamente saudosa



Pontiaguda lança atravessou-me o peito,
quando meu olhar, em saudades desfeito,
sobre uma antiga foto deitou-se a descansar.       
A dor, rasgando a alma, forte e vibrante,
tomou-me o coração, tão fina e lacerante,
que é quase impossível suportar.
Tornou-se o ar carregado nesse instante.
Sólido mesmo !  Intenso !  Sufocante.
Posso dizer que até irrespirável.
Minha garganta fez-se seca e dolorida,
reteve meu lamento fraco e sem vida
tornando a dor ainda mais insuportável.
E tanta febre me causa esta ferida,
que em delírios, prostrada, jaz vencida,
uma consciência infeliz e derrotada.         
Ardente fogueira me tolhe a visão,
lágrimas brotam em grande turbilhão,
descendo-me na face feito enxurrada.
A foto aguça minha imaginação
assaltando o centro da minha emoção,
entrando em meu peito por milhares de escotilhas.
A imagem é de um anjo, essência do amor,
atraindo para si, no abraço protetor,
a alegria natural de suas filhas.
O olhar de minha mãe,suave e acolhedor,
fita o futuro, que crê, é promissor,
sem ver derrota ou enxergar perigo.
é neste instante em que queria me deter,
mas o passar do tempo ninguém pode conter,
e com certeza, este é o meu maior castigo.



Eu sou alguém a quem não se permite chorar,
aprisionada pelos meus próprios pecados.
Foi me tirado o sagrado direito de amar,
tive todos os meus sonhos sufocados.
Eu sou alguém que se debate num mar de incertezas,
perdida no medo, tristonha e chorosa;
muito revoltada com as próprias fraquezas...
intensamente saudosa .




                       

                                                         17/05/2017

sábado, 6 de maio de 2017

Sonho




Eu  venho de um lugar
onde a beleza enche o olhar
e onde há tanta harmonia,
que é como se uma canção
estivesse em cada canto
promovendo alegria.

Meu Deus, que angústia voltar !
Que nostalgia...
Sinto vontade de chorar.
Chorar sem parar.
Depois de me sentir como princesa
novamente estou presa.




Lá, o céu é mais azul                                        
o  mar é tranqüilo, o vento breve.
Com praias de areias alvas
como a neve.
Lá, o sol brilha com mais intensidade
Sem ferir, sem maldade.
As flores têm mais perfume,
suave música envolve o ar.
Existem máquinas estranhas,
diferentes ao olhar.








Lá, há mais calor humano,
e alguém que me quer bem,
que por mim está torcendo.
Lá, os irmãos me esperam,
E enquanto estou vivendo
tentam me passar paz.
mas tudo o que eu sinto
é esta saudade louca. Nada me satisfaz.







Não sei por que fui levada até lá,      
Arrebatada no sono,
Nas asas de um sonho.
Tenho impressão
Quase certeza,
Que breve vou voltar.
Lá é o meu lugar...







Há muita fraternidade lá,
amigos dos quais não me lembro
e que me querem bem.
Passei por caminhos maravilhosos,
trouxe uma bagagem de lembranças
renovei as esperanças.







Lá eu tive paz !
Tive a certeza de que preciso ter coragem,            
preciso aprender a me sondar.
Ficou a idéia
de  que não tenho muito tempo.Preciso caminhar.



   Ah, Deus, se eu não precisasse mais
Voltar aqui !



Naquele pais não há doentes, aleijados,
infelizes.
O amor reina com autoridade,
as pessoas sorriem, sem tristeza.
Não há falsidades
 a amizade é comum e verdadeira,
o amor é certeza.

Quero e preciso lembrar todos os detalhes,
recordar tudo o que vivi, vi e falei
mas não consigo.
Infelizmente acordei.









Restam-me retalhos de uma viagem,        
 pedaços de paisagens lindas,
palavras de incentivo perdidas no espaço.
Restam-me os olhares numa despedida
que penso será muito breve.
Meu sonho é um laço.








Anseio voltar. Ah , eu anseio voltar !  
Decididamente,
apesar de todos os que quero bem
cada vez gosto menos daqui !
É lá que eu quero estar !!!


                                                         29/01/1988



Foi uma experiência em sonho, mas uma sensação muito forte, que me deixou estranha por muitos dias. Poucas  pessoas entenderão. Tudo bem !


Indagações






Só uma coisa neste mundo é pura e verdadeira:
a fé.
O resto e porcaria, é quase nada,           
o resto é mentira.
A amargura que sinto agora,            
acho que nunca senti.
O que sei é que tudo está tão feio,
tudo está tão sujo,
e ninguém consegue compreender 
o que vai dentro de mim.
Ainda tenho esperanças e gostaria de não tê-las
porque esperanças frustradas são dores
e dores passam, mas não são esquecidas.
No momento não me importa
o que se passa lá fora;
minha alma está muito ocupada
se auto-destruindo.
Todo mundo encontrou felicidade,
só eu ainda me debato
na presença inútil de mim mesma.
Eu mesma sou vazia,
eu mesma sou fútil e fugaz.
vivo perseguindo o amor
que na verdade não existe.
Minha alma sofre. Sinto pelos outros
e não consigo entender que outras pessoas
não se preocupem com a dor alheia.                           
Por que será que tudo é tão perfeito
e ao mesmo tempo tão imperfeito.                            
Por que nós humanos somos tão diferentes
uns dos outros
quando poderíamos ser assim
tão iguais ?
Só mesmo assim ninguém sofreria
e haveria paz de espírito por todo lado.
Somos todos tão fugazes e tão tristes.
seria  tão bom ter certeza de tudo,
ser amigos de todos,
ter um amor...
Amar...ser amada !
Seria tão bom se todos fossem como eu                               
porque só mesmo assim
todo mundo se encontraria,
os pares certos se apaixonariam
e seríamos então
verdadeiramente felizes !!!





               18/04/1974




quinta-feira, 4 de maio de 2017

O amanhecer aqui.



No amanhecer, a natureza
esbanja beleza
e me extasia.
Vejo em revoada, tantos passarinhos,
deixando seus ninhos,
saudando o dia.



















Sondando o solo, pombos ruidosos,
irrequietos, curiosos,
mariscam.
Camaleões, os muros escalando,
cabeça em pé, os olhos faiscando,
se arriscam.







        Vários besouros, asas semi-abertas,

     tendo a vegetação como coberta,
    exibem suas cores.
  As borboletas são tantas, tão formosas,
    exuberantes, claras, majestosas,
       polinizando as flores.








Em cima das folhas, joaninhas belas                     
e gotas de orvalho cintilantes.Tão singelas
como fino ouro.     


As  lavadeiras com suas asas cor de prata,
emitem brilho como uma cascata,
e são puro tesouro.



Os raios de sol, derramam-se sem pejo,
envolvendo a relva em caloroso beijo,
fatalmente enamorados.
Cala-se totalmente a voz do vento,
descerra-se a cortina azul do firmamento
absurdamente enlevados.















04/05/2017

O trem da volta.