sábado, 25 de outubro de 2014

Bem vinda, tristeza .









Veio a tristeza pra morar em meu peito,
Trazendo consigo a amargura e a dor.
Trouxe pra mim recado da saudade,
E carta escrita pelo desamor.


Saudade manda me dizer que quer abrigo,
Embora saiba que eu nem quero vê-la.
Diz que não fica longe da tristeza
Que eu me prepare então pra recebê-la.


Em sua carta o desamor me conta,
Que por aqui passou e eu nem vi.
Deixou uma marca na porta da minha alma,
Depois do pranto solitário que verti.


Falou que anda vagando pelo mundo,
Mas que adorou passar em minha vida.
Me confessou que havia me roubado,
A esperança que eu julgava perdida.



Disse que volta sempre que quiser,
Porque no mundo é este  o seu fado.
Ele é o preço dos erros cometidos,
O espelho onde se mira o passado


Curvo-me então sem ter ressentimento,
Já que o sofrer é minha natureza.
Abraço a amargura e cumprimento a dor,
Que seja muito bem vinda, ó tristeza !!!



                             





                                            23/10/2014



segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Sol












Ó sol que me aquece e ilumina,
Com o seu brilho quente e benfazejo,
Beijas as frontes dos velhos, das meninas,
Ao mundo todo estendes o teu beijo.



Preso no teto do mundo a espalhar carícias,
No barracão do pobre, no solar do milionário.
Penetras por igual, solene ou com malícia,

 No prostíbulo imundo ou no santo sacrário.




Forte! Não há no mundo quem te encare,                   
No furor do meio dia, à olho nu.
Bondoso,teu calor não há quem não receba.
Forte e bondoso, ninguém mais do que tu.




Quantos viventes amam teu reinado,
E anseiam por teus raios carregados,
De calor ameno, como de uma chama.
Mas se  és forte, também és educado,
Pois quando a noite chega, partes apressado,
Cedendo seu lugar à dama.


Fico te olhando, ó sol tão poderoso,
E ao mesmo tempo tão calmo e tão bondoso,
Que mesmo sem querer, eu imagino:
“Não será esta bola tão brilhante,
E de beleza tão rara e deslumbrante,
A bola com que brinca o Deus Menino ?”


                                   







                      17/01/1981

Advertência




Quando as rugas marcarem o teu rosto
Com as chicotadas impiedosas dos anos,                            
Tu verás que também marcam os desgostos,
E esculpem nova face os desenganos.




Tua beleza de hoje irá morrendo,
Pelas mulheres de ontem, de quem ris.
O corpo perfeito, com o tempo irás perdendo,
E com certeza jamais serás feliz.

Hoje  não medes o mal que vens causando,
E vais vivendo da forma que bem quer,
Sem perceber que o tempo está passando
E que és humana antes de ser mulher.

Os homens que hoje te idolatram e amam,
Amanhã rirão de ti, com nojo e pena,
E sem temor algum te expulsarão da cama,
Ó pobre prostituta, vil pequena.                                                    

Não pensas em nada mais além.
E ao teu lado o tempo vai passando.
Aqui na terra, não és mais que ninguém,
E a tua recompensa está chegando.

O mal que fazes na certa está guardado,
Naquele Livro de Contas do Senhor,
E pode crer o que ali foi anotado
Será cobrado no fim, do devedor.



Tu acumulas pecado dia a dia,
Sem nem pensar no dia de amanhã,
Quando verás o fim da alegria,
E o resultado desta vida vã.

Tenho pena de ti pobre menina,
Vagando torta, rota e perdida,
 pois com o ferro que feres o inocente,
amanhã também serás ferida.






                                                                            11/08/1981





O trem da volta.