Ah, o
Tempo !!! Ah, o Tempo tão cruel,
arrasta-se
em nosso corpo, preguiçoso e indecente,
enovelando-se
entre as pernas, feito uma serpente,
entrando
em nossa boca com gosto de fel.
Percorre
nossos braços desenhando azuis raízes,
embaça
nossos olhos com nevoentos matizes,
joga
sobre nossos cabelos um pálido véu.
Com
profundas valas, a face nos deforma,
deslizando
em nosso peito, a harmonia transforma
e
nosso interior sem dó desequilibra.
Por onde
o Tempo passa, deixa o seu sinal,
nódoa irremovível, cujo desfecho fatal,
concretiza-se em nós, fibra por fibra.
As vias do
Tempo vou um dia ultrapassar,
e tudo
que eu julgava meu, terei que abandonar,
talvez
sem entender porque a vida é tão fugaz.
Ao
preparar então minha mala e bagagem,
só o
que levarei nessa triste viagem
é o que eu gostaria de deixar pra trás.
Terei
que ir. Sou escrava do destino,
melhor
eu ir, querendo aqui ficar,
Na
esperança, quem sabe, de um afeto,
de
plantar a árvore, construir um teto,
ou uma
bela poesia terminar.
Tomara
que eu me vá, enquanto ainda perdura,
no
fundo da minha alma o refúgio da ternura,
e
enquanto viva, o existir me
der prazer.
Guarda-me
Deus, de no meio da estrada,
dar a
minha missão por terminada,
e
implorar a natureza pra morrer.
É o
próprio Tempo que se abre em caminhos,
que
nos traz a poeira, flores e espinhos,
que se
desfaz em desvios, atalhos, trilhas.
É o
próprio Tempo que invade nosso espaço,
que
nos prende os pés como que em fortes laços,
mutando
dias em milhas e milhas.
Quando
eu finalmente me for além do Tempo,
não
emita por mim um só lamento,
pense
que a tristeza é o Tempo quem desfaz.
Ao ter
saudades sinta o Tempo e o Espaço
pois finalmente
livre, em Tempo me desfaço,
pra
realizar o sonho de ser paz.
28/03/2017