Meu
canto voou muito cedo,
Numa
poesia sem rima.
Não
sei se vem dela meu medo,
Ou
se vem desta cidade,
Que
já me viu bem menina.
Na
loucura deste mundo,
A
gente se cruza na rua,
Sem
poesia e sem amor.
Eu
sempre achei muito pouco,
Ante
o morno da lua,
O
que existe de calor.
Quando
meu canto cantava,
Minha
voz se elevou,
E
pregou nesta andança,
Mas
já que ninguém escutava,
E
só resta na lembrança.
Hoje
não voam as aves,
Padece
o mundo de frio,
E
por falta de comida.
Gasta-se
tanto com naves
E
com armas infernais,
Sem
se dar valor a vida.
Quando
meu canto se ouvia,
Havia
beleza em tudo,
Amor
flutuando no ar.
Mas
como o povo insistia,
Meu
canto enfim ficou mudo,
No
medo de se exaltar.
Menores
aprendem a roubar
E
os velhinhos já não passam,
Pro
passeio matinal,
Afinal
o que se dá,
É
uma grande desgraça
Pra
enfeite de jornal.
Quando
meu canto era meu,
O
mundo era bem melhor,
Do
que está sendo agora.
Mas
o povo, se entendeu,
Preferiu
coisa pior
E
meu canto foi embora.
Hoje
não canto saudade,
Verdade,
guerra ou paz,
Presente,
futuro ou passado.
Faço
versos sem receio,
Pois
enfim, quando os leio
Bem
sei: são meu canto calado.
03/08/1971