Era tão linda minha favela
quando os primeiros raios de sol
a envolviam num caloroso abraço;
quando a brisa da manhã
a beijava com volúpia
e os rumores se iniciavam
num crescente burburinho.
Era tão viva a minha favela
quando se abria em becos e vielas
para o festival de operários
que desciam apressados, tagarelas
para a batalha diária
em busca do ganha pão.
Era tão cheirosa a minha favela
porque pela manhã à luz da aurora
cheirava a sabonete e creme dental,
café, cigarro e desodorante
Cheirava a amor bandido... inacabado,
a neném dormindo,
jovem apaixonada.
Era tão risonha a minha favela
quando vestia uniforme
e recebia a revoada de estudantes
com sua alegria infantil.
Tinha então como um olhar de esperança,
o orgulho da conquista,
o prazer de esperar o futuro.
Era tão serena a minha favela
quando o sol a cercava pelo dia
num amoroso enlevo de amante.
Deixava escapar suspiros e segredos,
movimentava-se preguiçosa, indolente,
se embolava com o dia escandalosamente,
e permitia cochichos, caricias e desejos.
Era tão exuberante minha favela
quando a noite lhe trazia o solidéu da lua,
lhe adornava o pescoço com colar de estrelas.
Então minha favela vestia-se de negro,
exibindo seus bares, botecos e tendinhas
para receber seu povo em farra e algazarra.
Se enroscava em malícias com a noite
até desmaiar de sono e de cansaço.
Era tão vibrante a minha favela
quando o Maracanã lotado
libertava o grito louco das torcidas.
E este grito galgando as escadas
vencendo ladeiras
se entranhava em barracões humildes
com a intimidade de alguém muito chegado.
Hoje a alegria se esconde,
Não há cheiros no seu corpo
não há sorrisos ou gargalhadas.
Triste favela...
Perdida em seus medos e angústias
totalmente prisioneira da realidade.
02/01/2014
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