sábado, 20 de julho de 2013

QUADRO

                                          


Irmão,
ontem, enquanto eu dormia
no aconchego do meu lar,
você morria,
preso, manietado, torturado...
Cristo nas mãos de seus algozes,
você se despedia
no meio do medo,
no eco da sua própria voz, 
pedindo,
suplicando,
chorando...
Eu que não fui sua irmã,
que não quis saber dos seus caminhos,
na inércia da minha omissão
despertei pela manhã,
vi o sol e soube :
__ Falta alguém na humanidade !

   



                                                 Irmão,
ontem, enquanto eu dormia
você morria,
e eu pergunto a Deus preocupada
no meio da violência
que entra no nosso Universo :
__ Será que nos seus últimos momentos
não pensou
em Ti ???








E eu lastimo
conselhos que não dei,
olhares que não olhei.
Na inércia da minha omissão
na minha individual  preocupação
nem sequer lhe perguntei:
__ Irmão, quais são os seus caminhos ?












Irmão,
ontem, enquanto eu dormia
você morria.

Meu corpo aquecido pelo lençol,
o seu torturado.
Meu amado ao lado,
você e o inimigo.
Minha cama quente,
o chão tão frio.
Minha liberdade,
suas mãos algemadas.
Minha segurança,
seu medo.
Meu sono,
suas lágrimas.
Meu silêncio,
seus gritos.
Minha inércia,
seu sacrifício.
Deus !!!  Me perdoe !


                             15.10.84


Minha homenagem a todos os meus amigos que se foram porque escolheram ficar do lado errado.


OBRA DO ARTISTA MAIOR









Não sei que mão de artista tão sensível,
pincelou de luz e vida, ali, no céu,
jogou em cima, uma porção de nuvens,
a adornar o monte, como um véu.













                      E sol e monte fazendo um só efeito,
                           como que ondulam ao sabor do vento,
                               salpicando no ar, fagulhas prateadas,                               
                                 formando uma coroa de luz no firmamento.















A mata verde tremula como um mar,
e uma cascata de nuvens vem caindo,
como se de repente no milagre natureza,
o próprio céu estivesse se abrindo.




                            










                            E sol e nuvens, mata e cerração,
                            a produzir uma visão de luz e cor,
                            transmitem  paz a este mundo conturbado,
                            transformam  a tarde em canção de amor.




Uma canção só tua CRIADOR !!!







               





                                                       07.11.84










VERDADE DE SEMPRE


...E aqui estamos nós,
submissos ao Poder...
À fôrça.
Mas de quem é a fôrça ???
Onde está a fôrça ???
Somos nós um... nada.
Eles se descartam da gente
sem olhar nossos olhos.
Somos fracos porque
precisamos deles.
...Somos muitos !

Eles são poucos !!!
Nós, nos revolvemos na lama da nossa miséria,
e nos maltratamos mutuamente
para agradá-los.
Parecemos um punhado de vermes
rastejantes,
tendo que viver como restos...
Como nada !!!
Repugnantes somos
na medida em que s
omos humilhados
e engolimos humilhações sob sorrisos.
Por quê ???  Por quê temos que sorrir
quando queremos chorar ?
Por quê ?  Por quê temos que calar
quando queremos gritar ???
Ah!  Mas dia chegará
em que tudo vai mudar.
Vai sim !!!
Esta esperança nos anima.


                                 03.06.96







MÃE DO CÉU








Mãe do Céu Morena,                               
 eu te comparo
a um lago de águas mansas...
cristalinas...
Água que em sua essência
é incorruptível;
que é pura e benfazeja,
que mata a sede da alma.
Lago que brota do Rio que é Jesus...
Que recebe as águas do Cristo
obediente...
Mãe dos Pecadores, Lago Puríssimo,
os raios do sol refletem sobre ti
e aquecem suas águas
agitadas de vida.



















Mergulhar no seu querer         
é limpar-se do pecado,
é preparar-se para o teu Filho.
Buscar teu aconchego
é saber que existe paz.
Pela tua benevolência
deu-se o primeiro milagre
de Jesus;
pela tua obediência
deu-se o Primeiro Mistério:
a Encarnação.
Lago Castíssimo
recebe minha alma cansada.
Lava... Limpa...
Prepara
para a Renovação !!!


                                                          18.06.96






ASSIM...





Se ao caminhar alegre pela rua,                                                                                                               olhasses na verdade teu irmão,
certamente enxergarias a alma nua,
e os sentimentos que lhe vão no coração.




                       Verias pés descalços, olhos duros,
                       mãos tremidas, boca sussurrante.
                       Verias fome, violência, abandono,
                       a falta de esperança, ausência de horizonte.




Procura com cuidado tal figura, e ao vê-la,
tenha vergonha ao constatar tamanha dor,
pois a imagem chocante de ser tão maltratado,
é a consequência cruel do desamor.




                      Não fuja deste quadro, com medo da verdade,    
                      que salta deste olhar acusador e triste.
                      É o resultado da ganância desmedida,
                      que em destruir o outro, ainda persiste.




Não apresse o passo em direção oposta,
sem querer olhar, a estendida  mão.
Saiba que tudo o que falta a este ser humano,
é aquilo que lhe sobra na sua omissão.




                   De nada serve tapar os ouvidos,
                   p'rá não ouvir os lamentos de agonia,
                   pois eles ecoam na soberba de sua alma,
                   e te perseguem sem dó, dia após dia.





A desgraça que destrói e ao pobre aniquila,
parte do coração de quem não sabe partilhar,                
só vai ser esquecida, e banida desta terra,
 quando o nosso coração souber amar.




                    Ao caminhar então, alegre pela rua,
                    e ao olhar de verdade o seu irmão,
                    o abrace sem medo, armado de ternura,
                    e o aperte bem junto ao coração.

                                                                    




                                                        (sem data)
                 

    
                                

ADEUS A MEU IRMÃO








Quebrou-se o violão em mil e um pedaços,
Em mil e um lamentos, rolando pelo chão,
As notas musicais, brilhantes pirilampos,
Pirilampavam em meio à solidão.
           



 Quebrou-se o violão e as cordas distorcidas,
  Prateados cachos balançando ao vento,
  Jaziam ao lado do braço silencioso,
  Testemunhas mudas de tão triste evento
                                                                   



            
Quebrou-se o violão, madeira envernizada,
Retalhos desiguais, pedaços de uma história.
Suas travas inertes, largadas na calçada,
Como canções antigas na nossa memória.


         
 Quebrou-se o violão e o bojo arrebentado,   
 Deixou que partissem pautas, rimas, poesia.
 De sua boca aberta, canções inacabadas                        
 Se dissolveram no ar junto com a alegria.





 Quebrou-se o violão e a felicidade,
A natureza pranteou sentida dor.
A alma do poeta, voou em liberdade,
Para pousar nos pés do Criador.




Quebrou-se o violão em mil e um pedaços,    
Em mil e um lamentos, rolando pelo chão,
E a saudade que eu já sinto parte
Em mil e um pedaços, meu pobre coração.

                                  22.01.2003





                   

O trem da volta.