terça-feira, 16 de julho de 2013

OLHOS DE MERENDA






                                                    
  Olhos de merenda escada abaixo,
Numa alegria e pressa indescritíveis,
Antegozando sabores, cheiros, cores,
Se antecipando em prazeres deglutíveis.







E vêm em revoada feito cambaxirras,
A saltitar em bandos, feito os pardais,
A engolir corredores, devorando portas,
E mesmo antes de comer, querendo mais.                        


E numa enorme confusão, pernas e braços,
Se ajeitam numa fila engraçada:
Começa com um, com dois e agrupados,
Num trololó de onde não se entende nada.




Olhos de merenda, lindos !  Coloridos ! 
Castanhos, negros, azuis, esverdeados.
Tão suplicantes, curiosos. Carinhosos,
A enfeitar rostinhos variados.




__ Tia, põe muiiiiiiiiito !  ___ Tia, quero pouco.
__Disto não gosto !  ___ Que delícia !  Isto sim !
__ Só quero aquilo.  ___ Separa esta cebola.
__ Ô Tia, frita um bifinho só p’rá mim !




Olhos de merenda, felizes, concentrados,
Solenemente carregando o prato cheio.
Sentam-se à mesa e comem esparramados,
Até a sineta avisar : fim do recreio.







E lá vão eles, sem pressa para as salas,
Arrastando passos, na vontade de ficar.
Olhos de merenda, espichados p’rá cozinha,
porque o recreio não devia terminar.






                                                       


                                                              Agosto de 2003

                       

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