Era um dia de festa. Vinte de
janeiro.Dia de São Sebastião. Segunda feira.
Saiu de casa feliz da vida porque a
vida era sua felicidade. Beijou a mulher amada, (a mais amada das mulheres),
Sorriu para a filha, ( a mais bela das mocinhas) , acariciou netos... Pisou na
rua sorrindo. Alguém brincou com seu jeito relaxado de andar com a camisa
aberta: “___ Muito sexy seu Waldê !” Quase 22 horas.
Os olhos miravam tudo, numa curiosidade de menino. Curiosidade de menino levado, nunca satisfeita. Seus passos rápidos sempre levavam ao “daqui a pouco” que era sempre um momento especial.
Os olhos miravam tudo, numa curiosidade de menino. Curiosidade de menino levado, nunca satisfeita. Seus passos rápidos sempre levavam ao “daqui a pouco” que era sempre um momento especial.
No peito, canções inacabadas e uma
saudade imediata do violão, amigo, companheiro inseparável de todas as horas.
Mais presente que tudo na sua vida. Mal saía, já sentia saudades do amigão.
Este era o único momento do dia em
que não estava no seio dos que amava.
Ia a caminho da Aurora que não era o fenômeno da natureza, mas tão
somente o seu local de trabalho. Tecnico em refrigeração, aposentado, mas firme
na labuta diária.Carregando um pouco mais de sessenta , era bonito.
Muito
bonito...O que se pode chamar de “coroaço”. Firme. Inteiro... Cabelos brancos
lhe enfeitavam o rosto de feições bondosas. Saltava energia do seu ser.
No seu interior lembranças: amargas,
felizes. Bonitas, feias, lindas. Tudo bem guardadinho... bem arrumadinho.
Tinha planos. Mudar-se... comprar mil
coisas... Assistir o casamento de sua princesa.
Tinha mil amigos porque sabia
fazê-los e conservá-los.
Bom pai, esposo maravilhoso, avô
sensacional, excelente sogro, ótimo irmão,amoroso filho, profissional
competente. .. Seresteiro.
Para ele não havia tristeza. Todos
eram bons.
Aceitou a vida com seus problemas e
dificuldades e viveu intensamente com profunda alegria, cada segundo da sua
existência. Não pensava na morte.
Você tinha que dar fim à alegria que
havia nele. Você o matou.
“A morte trás desculpas”, dirá você, mas eu lhe digo que a morte poderia
trazer mil desculpas que não fosse você.
Para onde você estava indo àquela
velocidade ? O que você ia buscar ?
A pista era quase livre ( mais de
vinte e duas horas), não havia razão para tanta ignorância.
E agora amigo, como fica sua
consciência ? Como fica sua situação na empresa ? E sua família ? Você deve ter
uma... De que adiantou correr tanto ?
Se você, no seu delírio, tivesse
chegado a conclusão de que não é um piloto de corrida, disputando uma prova,
mas tão somente um homem atrás de seu sustento, a realidade seria outra.
A notícia, o velório, os amigos chorosos,
as coroas de flores, a tumba fria, a solidão da mulher amada, tudo seria um
pesadelo. Um triste pesadelo do qual seria um alívio despertar.
Mas você existe e a sua existência é
a maior prova de que para ele houve o FIM.
Esta carta é um desabafo. É um texto que
escrevi num momento de grande tristeza e revolta. Sua inclusão com meus outros
textos e poesias é necessária porque afinal de contas faz parte de meus
escritos. Espero que entendam.
Janeiro de 2003.
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