quarta-feira, 10 de julho de 2013

MENINO FAVELADO

     










 Menino favelado feito cão vadio                         
                      Amanhece na rua, no calor, no frio.
                  Banho não toma, mal se alimenta,
Não tem paradeiro, seu tempo é o infinito.
                    Já frequenta bares, conhece adultos,
                       Já joga sinuca sorrindo bonito.







      Não usa camisa, não freqüenta escola,        
     Já é bom de briga, muito bom de bola.
     Se veste suado, se calça imundo,
     Sua mãe o despreza, seu lar é o mundo.
     Desconhece pai. São frouxos seus laços,
     Ninguém o procura ou segue seus passos.











          Se toma cerveja é porque alguém paga,
          Se fuma um cigarro, é ganhado também.
          Se a fome o assalta, a comida que come,
Tem o amargo sabor de desprezo de alguém.









               Menino favelado, feito cão vadio,
              Cordão no pescoço e o corpo no cio.
             Já domina a arte de fazer amor,
             De um jeito selvagem, com prazer e dor.




                                                     








 Tem carinhos brutos. Não sabe o que quer,   
 Se deita com homem, transa com mulher.   
Não conhece medo, vergonha ou piedade,
 Não curte a mentira, nem ama a verdade.







      Livre e inquieto como a ventania,
    Não tem esperança. Vive cada dia.
    Livre e solitário é uma ilha humana,
    Sem passado ou futuro, a caminhar errante.
    Guarda no peito uma opressão insana,
    Uma urgência de viver o tudo num instante.








       Pro jogo ele já tem uma grande habilidade   
 Conhece bem a fundo o “movimento” da favela.
      No funck é sensual, no pagode autoridade.
      Tem raiva da polícia e de tudo que vem dela.
       Só faz alguma coisa, se sentir vontade.
       Nao é um favelado, é de “comunidade”.










     Leal com seus amigos, não entra em furada,
     Mortal com os “x9”. Não tem palhaçada.
     Pega bem na arma e gosta de atirar.
    “A vida é prejuízo, a morte é lucrar! “







 Menino cão vadio, feito favelado,                   
 Pipeiro, fogueteiro, olheiro, endolador.
Sem rumo, sem poesia, sem ternura, abandonado,
 Vivendo e aprendendo que não existe amor.









         Baldio e indolente, lascivo e orgulhoso,
 Entregue a seus caprichos, capacho do destino,
Tem a dura atitude de quem já é um homem,
        Mas na realidade é somente um menino.
      







                                                                           29/08/2008

                               

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O trem da volta.