Se ao caminhar alegre pela rua, olhasses na verdade teu irmão,
certamente enxergarias a alma nua,
e os sentimentos que lhe vão no coração.
Verias pés descalços, olhos duros,
mãos tremidas, boca sussurrante.
Verias fome, violência, abandono,
a falta de esperança, ausência de horizonte.
Procura com cuidado tal figura, e ao vê-la,
tenha vergonha ao constatar tamanha dor,
pois a imagem chocante de ser tão maltratado,
é a consequência cruel do desamor.
Não fuja deste quadro, com medo da verdade,
É o resultado da ganância desmedida,
que em destruir o outro, ainda persiste.
Não apresse o passo em direção oposta,
sem querer olhar, a estendida mão.
Saiba que tudo o que falta a este ser humano,
é aquilo que lhe sobra na sua omissão.
De nada serve tapar os ouvidos,
p'rá não ouvir os lamentos de agonia,
pois eles ecoam na soberba de sua alma,
e te perseguem sem dó, dia após dia.
A desgraça que destrói e ao pobre aniquila,
parte do coração de quem não sabe partilhar,
só vai ser esquecida, e banida desta terra,
quando o nosso coração souber amar.
Ao caminhar então, alegre pela rua,
e ao olhar de verdade o seu irmão,
o abrace sem medo, armado de ternura,
e o aperte bem junto ao coração.
(sem data)
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