sábado, 15 de agosto de 2015

Pela manhã




        
Na chuva fina da manhã um rosto amigo.
Um sorriso divino, um raio de sol,         
cai manso e moroso na tempestade diária.
Na lama fofa da íngreme descida,
a sinceridade sufocando a falsidade,
desliza como trenó na neve da loucura.
Isto pela manhã: um rosto amigo.
desce sorrindo um pranto de saudade
após a longa e triste caminhada só.
Sobre uma folha alvacenta, tinta de amizade.
só a saudade e o desejo de ouvir
invade o aposento nulo e pardacento
onde a tormenta penetra num mudo vendaval.   
Isso pela manhã, um sorriso.
Um rosto amigo: o sol numa manhã
banhada de solidão;
um sorriso: bálsamo divino à dor
da saudade.
Tudo nos transmite um rosto amigo.
Os dentes dançam num sorriso amigo, e o sol nasce
num dia molhado.
Tudo pela manhã.
Um rosto amigo no cimo do Corcovado
clareia a noite, cessa o vento. Alivia a tensão.
Se pela manhã um rosto belo e sereno
chama-se amigo,
adeus solidão.
A noite o frio queima e tosta,
no corpo amigo muda declaração
de eterno abrigo contra as intempéries.
Faz-se nós no corpo e o corpo amigo,
mais que amigo é abrigo
na inútil vontade de ser querido.
Amor amigo, adeus
pois o frio passa quando a noite cai
ou quando um corpo se oferece e dá.
Adeus ! Tão triste não se vive de ilusões
e um rosto amigo é sempre proteção,
só que o amor nem sempre traz um rosto amigo.
De loucuras ainda não se vive,
e de utopias não se pode viver.
    Pela manhã um rosto amigo que sorri,
                     me lembra que é hora de esquecer.




                               17/06/1971
















Favela, juventude, amizade, confusão de sentimentos, é o cenário deste texto.


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O trem da volta.