segunda-feira, 16 de julho de 2018

A Maria Fumaça.




                                                
Lá se vão  mais de sessenta anos
numa imaginária  viagem sem volta.
Vão atravessando o caos dos desenganos.
Deslizando os trilhos da revolta.
A serpente de ferro adormecida
desperta aos poucos engolindo gente.
Sorvendo sonhos nesta triste lida
se espreguiça e segue lentamente
Num cadenciado  chocalhar de ferros
cascavelando vozes misturadas.
abrindo túneis nas sombras  e aos berros
jorrando com a fumaça, pedras abrasadas.
Seguindo  nas curvas, devorada pela bruma..
pisoteando sem cuidado os dormentes,
em correria louca e levitante, quase pluma,
sai despertando a natureza com silvos estridentes.
Querendo alçar vôo do alto da montanha,
escorrega pesada pela encosta fria,
atira-se ao vale e em calmaria estranha,
navega o solo irregular como uma enguia.
Adentra a floresta seguindo seu caminho,
buscando  o amanhecer  com  tal afã,
que o calor do sol vem como um carinho,
quando a primeira  luz  beija a manhã
Matiza-se em brilho sob o sol ardente.
Fura o nevoeiro que dorme na paisagem.

E vai passando  pela vida indiferente,
que no amanhecer parece tão selvagem.            
Como imponente rainha, diante dos vassalos
espreguiça-se gritando e em ritmo avança.
Minha alma menina observa os intervalos
e o devaneio dessa tão estranha dança.
À frente, a cabeça assustadora
com olhos cor de chama, a expelir fumaça.
Atrás a cauda móvel, saltadora
Bailando mágica  trama, a pradaria abraça.
Abro os olhos do sonho, devagar
pela  janela das horas a passar
percebo que o tempo não volta jamais.
Minha  Maria Fumaça é só uma quimera,
que não pertence mais a essa era
e eu não a verei nunca mais.


                                                  01/07/2018

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O trem da volta.