quinta-feira, 30 de abril de 2015

Pesadelo II



Sai labaredas da boca da estátua
erguida no centro da Terra.                  
O mar começa a ferver,
e a escuma vermelha no dorso das ondas
baila ao som da marcha nupcial.
A noiva caminha impassível
e aos pés da estátua se senta,
levanta o vestido que por ironia
é chita amarela
e dos vergões vermelhos escorrem lágrimas 
quentes e rubras.
A noiva abre os braços de cadáver
e sua carne cai aos poucos
apodrecendo a Zona Sul.
Aquela carne necrosada eu vi
na perna de um nordestino
que caiu do andaime
e perdeu a causa no Ministério do trabalho.
Vi na cabeça da criança, a mesma ferida.
Aquela criança que pedia esmola
na Central do Brasil.
Tem milhares de anos o monstro que assola;  
fruto da ganância dos homens.
Nasceu da jogadas na Bolsa,
das “barbadas” nas corridas.
A  noiva é assim formada:
sua cabeça é uma bomba relógio,
seus ombros um avião sequestrado,
seu pescoço uma estátua sem glória.
Seus braços são dois fuzis,
seus seios duas granadas,                           
sua cintura um tanque de guerra.
Seu hálito é a poluição total,
seu olhar o raio laser,
sua voz a destruição
da nossa Sodoma,
Sem Deus que a salve.






26/07/1971.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O trem da volta.