sexta-feira, 10 de abril de 2015

Carta de amor

    


 Meus olhos vagueiam vagabundos pelo infinito, encontrando em cada astro que enfeita o céu, alguma coisa do amor.
     É noite, e embora a escuridão impere no ar, no alto os salpicos de luz iluminam o espaço com uma luminosidade tênue que lembra valsa, abraço, carícia... 
     Mergulho nessa imensidão, perdida nos meus pensamentos, e sinto-me envolta numa atmosfera de extrema paz.
     Ah, se eu pudesse ficar assim, eu queria abrir meus braços, reter no meu regaço uma lembrança linda ! Queria ser assim, feliz, sem medos, livre dos pesos e dos pesadelos, livre das garras da incerteza. Poderia eu, ser parte do Universo, sem ser frágil criatura, sem ter no peito um mundo de sentimentos que me atormentam a alma ? Poderia eu, voar de encontro ao brilho de um olhar querido, navegar no oceano de um carinho e aportar no cais da alegria ? 
  Ó amor, doce enlevo do espírito, por que tomaste de assalto os meus dias e abrangeste o meu olhar ? Estou contida em ti e te contenho. De minha boca só sai teu nome... eu só sei pronunciar-te amor. Meus beijos te    buscam, meus dedos te anseiam, meus pés levam-me ao teu encontro e meu coração te sonda. Esta angústia velada me provoca uma enorme pressa de ti. 
     Não posso mais ser eu mesma porque tu te entranhaste na minha individualidade e quem me vê, vê também a ti.
     Tu me tornas diferente porque transpiro a ti e aspiro a tua presença. Amor, eu existo por ti.
     Tu te tornaste a minha religião e no altar do sentimento, sacrifico a tristeza e o pranto para viver em comunhão contigo. 
     Amor chama acesa, luz eterna, brilho intenso, tu clareias a escuridão das almas e atinges a todos os viventes.
     Quantas versões existem em ti, e todas elas avassaladoras, ativas e extremistas.
     Assim, quem ama, transforma, cria e conserva os frutos dos sonhos... 
     Posso porque amo, flutuar no espaço e caminhar no anseio. Tudo me é possível porque faço parte do amor. 
     Ainda agora, mirando a noite e o céu pontilhado de estrelas, dentro do meu coração, crio minhas próprias constelações, minhas nebulosas, vias espaciais, meus sistemas. 
     Pulo de estrela em estrela, embarco num cometa e avistando meus desejos os trago de encontro ao meu corpo para entendê-los, confortá-los.
     Amo sim, eu amo porque sou filha do próprio Amor e não me importo se fico meio enlanguescida e  entorpecida com a ação deste sentimento que circula no meu sangue e atinge cada célula do meu corpo ativando e aquecendo todos os meus sistemas.
     Minha imaginação salta das linhas desta folha de caderno, plana livre pelo céu da sua realidade e alcança a plenitude do amor !
     Tudo isso porque te amo, meu amor !!!

                         



1994


Este texto foi escrito para responder ao desafio de colegas que achavam impossível alguém escrever uma carta de amor, sem estar apaixonada. 


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O trem da volta.