Hoje
minha boca já não mais sorri,
minha
alegria a muito se acabou.
Sou
sombra de humana. Quase nada.
O
tempo, essas marcas me deixou.
Meu
olhar se ergue suplicante e humilde,
na
minha mão aberta sinto câimbra e dor,
mas
não posso arriá-la, pois nela recebo,
na
forma de esmola, migalhas de amor.
E
vejo desfilar ante meus olhos,
Ricas
senhoras, pastas e jornais,
Bolsas
de compras, moças faladeiras,
Namorados,
titios e papais.
Meu
pobre filho no meu colo adormecido,
Dormiu
chorando. É de cortar o coração.
Ao
despertar dos sonhos almejados
Terá
para comer apenas este pão.
Já
fui bonita e jovem, tempo tão distante,
Já
tive vestidos, sapatos. Todos meus !!!
Não
sei quando, nem porque eu caí tanto,
A
implorar as sobras, “pelo amor de Deus ...”
Meu
cabelo maltratado e imundo,
Meu
corpo cansado, doente, abandonado.
Minhas
mãos súplices... minha roupa velha.
Meu
filho magro... Meu olhar molhado.
Quantos caminhos andei por este mundo,
Já
fui “madame”, “senhora” e coisa e tal,
Hoje
nem sei se sou alguma coisa,
Jogada
nesta cama de jornal.
Tudo
que sei é que o tempo vai passando,
E no passar, vai mais me maltratando,
E
o ser humano que sou, já ninguém vê.
Quando
anoitece eu peço a Jesus Cristo,
O
único que sabe que eu existo:
__
“Ajuda-me Jesus ! Eu sou como você !!!
Outubro de 1984
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