segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Desgraçada.


Hoje minha boca já não mais sorri,
minha alegria a muito se acabou.
Sou sombra de humana. Quase nada.
O tempo, essas marcas me deixou.




Meu olhar se ergue suplicante e humilde,             
na minha mão aberta sinto câimbra e dor,
mas não posso arriá-la, pois nela recebo,
na forma de esmola, migalhas de amor.




E vejo desfilar ante meus olhos,
Ricas senhoras, pastas e jornais,
Bolsas de compras, moças faladeiras,
Namorados, titios e papais.



Meu pobre filho no meu colo adormecido,
Dormiu chorando. É de cortar o coração.
Ao despertar dos sonhos almejados
Terá para comer apenas este pão.
         





Já fui bonita e jovem, tempo tão distante,
Já tive  vestidos, sapatos. Todos  meus !!!
Não sei quando, nem porque eu caí tanto,            
A implorar as sobras, “pelo amor de Deus ...”



Meu cabelo maltratado e imundo,
Meu corpo cansado, doente, abandonado.
Minhas mãos súplices... minha roupa velha.
Meu filho magro... Meu olhar molhado.
   


Quantos  caminhos andei por este mundo,
Já fui  “madame”, “senhora” e coisa e tal,
Hoje nem sei se sou alguma coisa,
Jogada nesta cama de jornal.




Tudo que sei é que o tempo vai passando,
E  no passar, vai mais me maltratando,
E o ser humano que  sou, já ninguém vê.


Quando anoitece eu peço a Jesus Cristo,
O único que sabe que eu existo:
__ “Ajuda-me Jesus ! Eu sou como você !!!


                         Outubro de 1984









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O trem da volta.