Mil
desejos assolam meu deserto
e um terremoto abala a estrutura.
Por
quê ? Por que se diz ao ouvido mil
coisas
que
deveriam apodrecer no pensamento ?
Eu
não sei o que deu em mim, nem onde estou:
se
no centro de um planeta,
se
numa revolução solar,
se
no controle de uma nave espacial,
se
no espaguete de um prato especial.
Se
no chão, se na mão, se na visão.
Eu
já nem sei m ais o que sou:
se
um verme, se um rato,
se
o feminino de gato,
se
homem, se mulher,
se
céu se inferno,
se
verão, se inverno.
se
por fruto da guerra,
por
escarro da terra,
vômito
do sol
ou
por obra de Deus.
Maldito
século XX que me oprime e consome,
que
me mata de fome !
Fome
de justiça que abala meu peito gelado.
Eu
já nem sei m ais onde o tempo parou:
se
foi na passagem, se foi na mensagem,
se
foi na sarjeta, se foi no sargento.
Eu
já nem sei mais em que espaço giro,
e nem sei mais que mundo é este
onde
a bondade ofuscada, não pode prevalecer.
Eu
não podia existir !!! Por que existir ???
Por quê ?
Já
nem sei mais onde está a humanidade:
se
emigrando no Ceilão,
se
na elite do Japão,
se
na voz papal,
no
conselho sacerdotal,
se
em Plutão ou Marte.
Existe
falsidade e orgulho. Existe sim !
E
eu já nem sei m ais por que escrevo:
se
por desventura, se por amargura,
se
por convencimento, se por expiamento,
se
por verdade, se por falsidade.
Eu
já nem sei mais o que escrevo :
Onde
estou ? Onde estão todos ?
Dêem-se
as mãos ! Auxiliem-se .
Está
havendo um terremoto em mim...
Depressa
Jornal Nacional !
Depressa
Hilton Gomes !
Vou
mudar de canal.
19/04/1971
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