terça-feira, 16 de setembro de 2014

Incoerente

           


      

  
Mil desejos assolam  meu deserto
e um terremoto abala a estrutura.
Por quê ?  Por que se diz ao ouvido mil coisas
que deveriam apodrecer no pensamento ?
Eu não sei o que deu em mim, nem onde estou:
se no centro de um planeta,
se numa revolução solar,
se no controle de uma nave espacial,
se no espaguete de um prato especial.



Se no chão, se na mão, se na visão.
Eu já nem sei m ais o que sou:

 se gigolô, se um pândego,
se um verme, se um rato,
se o feminino de gato,
se homem, se mulher,
se céu se inferno,
se verão, se inverno.






 Eu já nem sei mais por que existo:
se por fruto da guerra,
por escarro da terra,
vômito do sol
ou por obra de Deus.




 ... E já nem sei  mais se sou gente.
Maldito século XX que me oprime e consome,
que me mata de fome !
Fome de justiça que abala meu peito gelado.
Eu já nem sei m ais onde o tempo parou:
se foi na passagem, se foi na mensagem,
se foi na sarjeta, se foi no sargento.


Eu já nem sei mais em que espaço giro,
e nem sei mais que mundo é este
onde a bondade ofuscada, não pode prevalecer.
Eu não podia existir !!! Por que existir ???  Por quê ?





 Que pecado mal dado, mal feito, mal intencionado.
Já nem sei mais onde está a humanidade:
se emigrando no Ceilão,
se na elite do Japão,
se na voz papal,
no conselho sacerdotal,
se em Plutão ou Marte.




 Morte !
Existe falsidade e orgulho. Existe sim !
E eu já nem sei m ais por que escrevo:
se por desventura, se por amargura,
se por convencimento, se por expiamento,
se por verdade, se por falsidade.
Eu já nem sei mais o que escrevo :







Onde estou ?  Onde estão todos ?
Dêem-se as mãos !  Auxiliem-se .
Está havendo um terremoto em mim...
Depressa Jornal Nacional !
Depressa Hilton Gomes !
Vou mudar de canal.

                                 19/04/1971




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O trem da volta.